sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Uma história de amor e superação!

Olá queridas, quero começar com uma história bem peculiar pra mim vivida em uma dessas quintas-feiras na maternidade onde atuo como  doula voluntária.

Logo quando cheguei passando pelos quartos havia uma moça aos prantos e sua mãe que era a acompanhante  também com os olhos cheios de lágrimas. Um silêncio se instalava naquele quarto. Uma outra doula que faz o mesmo horário já havia tentado conversar com elas e ajudar mas não houve muita abertura para isso. Eu sabia que algo realmente grave estava acontecendo, apenas me apresentei e fiquei ali por alguns segundos, ofereci água, elas aceitaram e ai encontrei uma brecha para oferecer meu apoio mesmo sem saber absolutamente nada do que de fato estava acontecendo.

Nos próximos minutos fiquei ali ao lado delas, fechei um pouco as janelas porque fazia muito frio nessa noite, falei com a acompanhante Dona Elza (pseudônimo) sobre a janta que é oferecida e insisti pra ela dar uma volta e  respirar um pouco,  comer alguma coisa que eu ficaria ali com a futura mamãe! Quando Dona Elza saiu e  ficamos apenas nós, eu e a Carol, (pseudônimo) ela de fato desmoronou, começou a chorar muito, eu peguei a sua mão e ofereci à ela os meus ouvidos se ela quisesse me contar sobre o que estava acontecendo. Ela respirou fundo e disse: eu estou doente, acabaram de sair os resultados dos exames,  HIV positivo. Por algum motivo inexplicável ela confiou em mim e abriu a sua história, a sua vida, o seu passado... Naquele momento o meu chão caiu, meu coração se partiu junto com o coração dela e eu apenas me aproximei e ofereci o meu amor e carinho, puxei a cadeira ao lado, me sentei e fiquei ali segurando a sua mão por longos minutos.Um momento que era pra ser de pura alegria, satisfação e paz, na vida da Carol não foi exatamente assim, ele se misturou com tristeza, dor e muitas perguntas sem respostas.

 Aos poucos o silêncio foi se rompendo e ela foi abrindo o coração. Me coloquei no lugar dela e então pensei  no que eu gostaria de ouvir e de sentir se eu estivesse nessa situação, foi ai que eu respirei e disse pra ela: Carol, você vai conseguir passar por isso! Você não está sozinha, Deus te deu um presente para você amar e cuidar, essa princesa (ela estava esperando uma menina) vai te dar forças para que tudo isso seja superado, eu tenho certeza! Acredite! Essa notícia pode fazer de você uma pessoa amarga e triste ou um ser humano mais doce, que da mais valor aos pequenos detalhes da vida, que ama mais, respeita mais e perdoa mais! Contei à ela também sobre a história de um grande amigo meu que descobriu o vírus muito jovem e como ele aprendeu a lidar com isso e a superar.
Com o passar das horas ela foi ficando mais calma e confiante.

Carol não entrou em trabalho de parto porque a cesárea já estava agendada para a manhã seguinte. Eu não consegui oferecer à ela massagens para aliviar a dor lombar, mas ofereci um amor, um carinho e meu ombro amigo para de alguma forma tentar ajudá-la a juntar os cacos do seu coração. Fiquei ali quase o tempo todo, não doulei nenhuma outra parturiente nesta noite. Muito mais foi dito à ela e à Dona Elza durante as próximas horas, incentivando e acreditando junto com elas na força da vida.

Eu permaneci em contato com ela através de mensagens pelo celular nas próximas semanas e ontem fui até a casa dela com meu esposo para dar um abraço apertado, levar uma cesta básica e conhecer a flor mais linda do jardim da vida de Carol, a Manu (pseudônimo). Quanto amor e doçura eu encontrei, Carol estava linda, ela tem um sorriso lindo que eu não conheci naquela quinta-feira, e a Manu é simplesmente encantadora, uma criança que ainda não conhece a sua história mas que já carrega consigo uma paz que excede a qualquer entendimento. Ela dormiu no meu colo e eu confesso que fiquei com vontade de ter um bebê!
Quando sai dali e entrei no carro para ir embora o meu sentimento era de missão cumprida, não porque nosso contato terminaria ali, mas porque eu consegui passar pela vida da Carol, deixar um pouco de mim e encher a minha "mochila" de esperança, paz e com uma certeza de que a vida sempre vale a pena e mais do que isso, a vida é mais doce quando repartida.

*PS: A cesárea foi indicada neste caso porque essa é melhor opção para evitar a transmissão do vírus para o bebê. Pesquisadores do International HIV Group analisaram diversos estudos e concluiram que as chances de transmissão caem para 50% se feita a cesariana programada.

Espero que essa história inspire vocês e encha o coração de cada leitora com esperança e amor em tempos difíceis!
Com carinho,
Sil.






2 comentários:

  1. Nossa! Isso foi forte e incrível, que Deus esteja sempre ali.

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    1. Que Ele esteja sempre perto da dor e do sofrimento! Alegria em te ver por aqui ;)

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